sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Campanha eleitoral de Ary Rigo recebeu doações de Puccinelli e até de Artuzi, preso por corrupção

Celso Bejarano

As prestações de contas entregues até anteontem ao TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul) pelos candidatos eleitos e não eleitos exibem curiosas e suspeitas situações.

Uma delas aparece no relatório do deputado estadual Ary Rigo, do PSDB, pivô do escândalo que revelou um suposto esquema de corrupção implicando o governo do Estado, o Tribunal de Justiça e o Ministério Público Estadual.

Rigo declarou a corte eleitoral ter gastado na campanha R$ 1.095.836,00, a terceira mais cara entre os concorrentes a um mandato estadual. Ainda assim, não foi reeleito.

Doador na cadeia

E, entre os doadores, surge na lista o nome de Ari Valdecir Artuzi, prefeito afastado de Dourados, preso no dia 1º de setembro passado, por suposta ligação com uma quadrilha que fraudava licitações públicas no município.

De acordo com a prestação de contas de Rigo, Artuzi teria feito uma doação “estimada” de R$ 2 mil a ele. Detalhe: o registro dessa doação, segundo declarado ao TRE, foi feito no dia 10 de setembro, nove dias após a Polícia Federal ter prendido Artuzi.

Ainda conforme as prestações de Rigo, primeiro-secretário da Assembleia, o governador reeleito André Puccinelli, do PMDB, teria também feito ao tucano três doações que somaram R$ 6.150,00.

Numa delas, no dia 28 de julho, por meio de um cheque no valor de R$ 5 mil. Já no dia 21 de julho, aparecem dois repasses, um no valor de R$ 150,00 e, outro de R$ 1 mil.

Escândalo

O escândalo que pôs em xeque a credibilidade dos poderes constituídos de Mato Grosso do Sul surgiu por meio do youtube, vídeo exibido na internet.

Sem saber que seu diálogo com um secretário do prefeito Artuzi era gravado por equipamentos da Polícia Federal, Ary Rigo afirmou que dinheiro da Assembleia Legislativa era repartido entre o governador André Puccinelli, desembargadores do TJ e o ex-chefe do MPE, Miguel Vieira. A suposta negociata seria fruto de troca de favores.

Após o vídeo ter alimentado notícias divulgadas em todo o país, o deputado tucano caiu numa espécie de ostracismo político ao ser abandonado pelos aliados. Ele já havia sido eleito seis vezes deputado estadual.

Eu nego

Rigo negou depois o dito na gravação. Onze dos 30 desembargadores e o MPE interpelaram o parlamentar judicialmente. O governador Puccinelli também prometeu acioná-lo judicialmente.

Os financiadores

Na lista dos financiadores da campanha de Rigo aparecem duas empresas que prestam serviço a Assembleia Legislativa: a Digitho Brasil Soluções em Software Ltda, que doou R$ 50 mil e a H2L Equipamentos e Sistemas Ltda, que contribuiu também com R$ 50 mil.

Ary Rigo, segundo declarado no TRE, tirou R$ 120 mil do bolso por sua campanha. Já a mulher dele, Márcia Rigo, R$ 115 mil.

O deputado arrecadou ainda dinheiro que foi destinado à campanha eleitoral do deputado federal eleito Edson Giroto, do PR (R$ 9 mil); do também deputado federal eleito Reinaldo Azambuja, do PSDB (R$ 150 mil) e do senador eleito Valdenir Moka, do PMDB (R$ 152 mil).

Duas empreiteiras figuram como financiadoras da campanha de Ary Rigo: a Nautilus Engenharia (R$ 70 mil) e a Constran S/A – Construções e Comércio (R$ 80 mil).

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